Por: Allan Johan
Prezada Marina Silva, sou jornalista, dono de um site com 5 mil visitantes por dia e alinhado politicamente com a esquerda, sou filiado ao PSB, já me candidatei a vereador uma vez aqui em Curitiba e pretendia votar na senhora. Quando sua candidatura foi cogitada, fui interpelado por membros do PV sobre a minha opinião. Na ocasião, eu disse: prefiro mil vezes uma ministra do Meio Ambiente de peso do que uma presidenta mediana. Acompanhando as últimas declarações da senhora acerca do casamento gay, tive a certeza de que o meu voto continuaria indeciso, assim como a maioria dos brasileiros que esperam uma opção satisfatória para darmos a nossa confiança.
O PT e o PSDB tiveram dois mandatos para fazer algo concreto aos gays nesse país, mas continuamos sendo vítima de violência (o país registra um assassinato de homossexual com indícios de homofobia a cada dois dias), não temos NENHUMA lei federal que nos conceda direito à Igualdade. Quando falo a palavra Igualdade, não digo apenas que desejo que meu companheiro seja incluso em meu plano de saúde e tenha direitos em herança, mas desejo a Igualdade garantida pela nossa Constituição, a Igualdade de não ser discriminado pelos órgãos públicos, de poder doar sangue, sim, homossexuais não podem doar sangue no Brasil.
O casamento gay é direito dos homossexuais, pois, se buscamos a Igualdade, desejamos ter a nossa Dignidade garantida. Dignidade esta que está contemplada em nossa Constituição. Quase a totalidade dos homossexuais não deseja casar na Igreja e para isso não precisamos de leis. Temos religiões que nos aceitam e que celebrariam ou abençoariam estas uniões. Sem querer partir para a discussão religiosa nesse ponto, o casamento não é uma instituição religiosa, não é propriedade de uma religião, não queremos casar em Igrejas, na Sua Igreja, queremos o direito de sermos Iguais, embora diferentes, este é o princípio da Igualdade e da Diversidade, que tanto conclama apoiar. Queremos poder chamar a nossa união de casamento, ter os mesmos direitos, e ter uma Certidão de Casamento e não um papel que diz que temos um contrato civil, como se fôssemos sócios. Não adianta vir com o velho discurso de apoiadora da diversidade quanto quer nos induzir ao erro, a aceitarmos meia cidadania ou meio Direito.
Tanto se fala em Diversidade mas o Brasil está a quilômetros luz de ser um espaço democrático pois o povo brasileiro perdeu a sua fé na Política. Por mais que eu goste da imagem da senhora, de defensora do meio ambiente e mulher questionadora, me frustra ver que esta imagem entra em conflito com uma mulher que é limitada em razão de sua fé, ao não entender o papel de uma presidenta, de não entender o direito das mulheres ao aborto – se assim desejarem - de não entender que os homossexuais devem ter os seus direitos garantidos pelo Estado, assim como todo cidadão brasileiro. E isso reflete no seu pensamento religioso, na sua imagem de Deus e de como ele vê os homossexuais.
Vou ser breve para que entenda que os homossexuais não escolhem serem humilhados, terem seus direitos negados e sofrerem tanto ao verem a própria família virando as costas e os discriminando. Nascemos assim, alguns se aceitam depois de décadas, mas no fundo percebemos e travamos uma luta contra os preconceitos ensinados na escola e na Igreja, na TV ou por nossos pais. Não é uma doença que deve ser curada, não é uma falta de vergonha, é apenas a vontade de ser feliz depois de se aceitar, de ver que não há escolhas a serem feitas, e que os auto questionamentos podem apenas ser empurrados para o futuro. Temos o direito de pensarmos que somos parte de um plano divino, que somos criaturas de Deus. As religiões usam os homossexuais como forma de pregar que o homossexual é fruto de um lar instável, que não quer constituir uma família. Ser gay não é antinatural, não é escolha, não é condenável: é ser diferente. Temos o mesmo direito de acesso a Deus e às Leis que as outras pessoas. Muitos gays são crentes, tementes a Deus e vivem em conflito pois pessoas ditas cristãs não os aceitam, não aceitam que as uniões de pessoas do mesmo sexo sejam consideradas casamentos, que possam ser felizes e equiparados em direitos e deveres, em Dignidade. A religião não só se apropriou do termo casamento como se apropriou do próprio divino. A religião quer se apropriar do Estado e reverter os últimos 500 anos de história de separação entre a fé e a política. É pouco tempo, ainda estamos caminhando, mas o verdadeiro político deve falar a língua de todos e saber se por no lugar do outro. Creio que falta isso à senhora. Falta sensibilidade em entender esta parte da população e seus anseios, e temo que essa viseira religiosa não lhe permita entender tanto o lado do rico quanto do pobre, do nordestino do Sertão e do paulistano, do ateu e do fanático, e tantos outros grupos diversos e diferentes que temos no país. É preciso fazer o Brasil um país de todos, de fato, o que não tem sido feito senão no discurso. Precisamos que as diversas camadas se entendam e trabalhem para o crescimento do país e pelo fim da violência e da má distribuição de renda, precisamos de um país que respeite todos os seus filhos, precisamos de uma voz coletiva, forte e que promova a discussão e defenda as minorias, pois, no Brasil, ainda se entende Democracia como aquilo que a maioria decide.
Uma pena eu ter perdido a minha candidata. Eu e milhões de homossexuais do país, e seus amigos e parentes, mas ainda é tempo. Por favor, não responda mais questões sobre o casamento gay, informe-se melhor sobre o assunto para não me ofender. Você tem o direito a dar a sua opinião e deve fazer. Mas dizer que o casamento é uma instituição milenar e que deve ser entre pessoas de sexos diferentes, por favor, é o mesmo discurso do macho que diz que a mulher deve servir ao homem, pois por milênios foi assim e até pouco tempo, segundo as mesmas leis que criaram o casamento, ela não poderia se divorciar dele ou denunciar a violência doméstica. Não subestime a inteligência dos seus eleitores, eles não são do filão evangélico fanático apenas, eles são pessoas que acreditam em você de verdade, tente fazer o mesmo.
Allan Johan - Jornalista
Fonte: Revista Lado A
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